Interceptações da Operação Alba Branca indicam que Luiz Roberto dos
Santos, o Moita, então chefe de gabinete de Edson Aparecido, secretário
chefe da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin (PSDB), conversava com
suspeitos de participar de um esquema de fraudes na merenda escolar de
sua sala no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Santos
foi flagrado no grampo da Polícia Civil várias vezes dizendo a
interlocutores que falava do Bandeirantes.
Relatório policial mostra que ele mantinha sucessivos contatos
ao celular, de seu próprio gabinete, com integrantes da organização sob
suspeita de fraudar licitações e superfaturar produtos agrícolas e suco
de laranja destinados à merenda escolar da rede pública.
Um dia antes de a Alba Branca ser deflagrada, em 19 de janeiro,
Santos foi demitido do cargo de confiança que ocupava. O secretário
Edson Aparecido o devolveu à função de origem na Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM).
Boa parte dos grampos flagra o ex-chefe de gabinete orientando o
lobista Marcel Ferreira Júlio, apontado como operador de propinas da
organização que se infiltrou em pelo menos 22 prefeituras paulistas e
mirava em contratos da Secretaria da Educação do Estado. Ele fala sempre
de um celular e diz que está "no Palácio".
O dossiê da Alba Branca indica o campo de ação do investigado.
Segundo as investigações, Santos age diretamente para atender os
interesses da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), apontada
como carro-chefe da fraude.
O presidente da Coaf, Cassio Chebabi, confessou à Polícia e ao
Ministério Público como era o trabalho de "cooptação" de gestores
municipais e que as propinas pagas eram equivalentes a 10% sobre o valor
dos contratos. Segundo ele, "quando a Coaf atrasava (as comissões),
devido a dificuldades financeiras, eram feitas retaliações e ameaças".
"As apurações demonstraram que Marcel trabalhou em duas frentes
para a Coaf. A primeira, num contrato firmado com a Secretaria de
Educação do Estado, onde aparentemente se deu a participação de ‘Moita’,
e a segunda, em contratos firmados com Prefeituras", afirma o relatório
policial.
Escutas
Numa interceptação de 4 de dezembro do ano passado, o então
assessor de Edson Aparecido sugere a Ferreira Júlio que ele peça o
reequilíbrio financeiro de contrato de merenda, e não aditamento. Santos
contou que tinha falado antes com Fernando Padula, na época chefe de
gabinete da Educação, de quem disse ter recebido a orientação. Em
entrevista ao Estado na semana passada, Padula negou ter feito a
sugestão.
"As interceptações trouxeram a lume a participação no esquema
dos indivíduos apontados como 'Moita' e 'Alex'", destaca o inquérito.
"Marcel menciona mais de uma vez que Alex, que seria da executiva do
PMDB, iria fazer o primeiro contato com prefeitos para depois a
prefeitura ser visitada pelos vendedores da Coaf. A partir daí, o órgão
público é visitado, já com a proposta da comissão, negociada de acordo
com o valor do contrato pactuado." O relatório assinala que "os valores
enviados em espécie para Marcel pelo vendedor César (Bertholino, também
investigado no caso) se deu em razão do contrato firmado entre a Coaf e a
Secretaria de Educação".
O documento, de 7 de janeiro, é subscrito pelos delegados de
polícia Mário José Gonçalves, presidente do inquérito, Paulo Roberto
Montelli e João Vitor Silvério.
"Sobre este tema o investigado Marcel se refere diretamente ao
indivíduo apontado como 'Moita' e conversa com ele sobre o assunto. As
informações trazidas por eles mesmos nas conversas se trata de Luiz
Roberto dos Santos, atual chefe de Gabinete da Casa Civil de São Paulo,
conhecido também por 'Luiz Moita', o qual demonstra nas conversas
interceptadas saber e interferir nos assuntos de interesse da Coaf e que
estaria agindo diretamente num contrato da cooperativa com o Estado,
cujo reajuste de preço deveria ser tratado como reequilíbrio
financeiro", continua o documento.
Segundo a Polícia, os grampos "demonstram que Moita mostra
claramente estar íntimo de César e que se imiscui, profundamente, nos
assuntos da Coaf".
Procurado, o ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo
Alckmin Luiz Roberto dos Santos não retornou contatos da reportagem. Os
outros citados não foram localizados.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário