Morreu ontem, aos 76 anos, o empresário José Eduardo de Andrade Vieira, proprietário do Grupo Folha de Comunicação. Ele estava internado no Hospital Evangélico de Londrina desde 13 de janeiro e, segundo informações da assessoria de imprensa do hospital, morreu em decorrência de complicações de uma pneumonia. Zé do Chapéu, como era conhecido, será cremado no final da manhã de hoje, no Crematorium Londrina. O prefeito Alexandre Kireeff decretou três dias de luto oficial.
De acordo com a ex-mulher, Tânia Vieira, o empresário foi hospitalizado em Joaquim Távora, cidade próxima de onde morava, no dia 13 de janeiro. Depois de poucas horas, Vieira foi transferido para Londrina e nos últimos dias encontrava-se na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Evangélico. Por volta das 6h de ontem, sofreu uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.
Trajetória
Paranaense de Tomazina, Vieira construiu seu nome com importantes atuações na politica, na economia, na imprensa e na agricultura. Elegeu-se senador e foi ministro por duas vezes, nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. No primeiro, comandou o ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo (1992-1993) e, posteriormente, assumiu a Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária (1993). Durante o período FHC, voltou a chefiar a Agricultura (1995-1996).
Entre 1981 e 1997, presidiu o Bamerindus, banco fundado por sua família que acabou sendo vendido ao HSBC. A ida para o banco foi, segundo o próprio Vieira, um “acidente de percurso”. Três de seus irmãos morreram em 1981 e ele acabou assumindo o banco.
O período de maior destaque e a queda financeira vieram em seguida, e ele mesmo suspeitava que as coisas estivessem ligadas. Fundado pelo pai de José Eduardo, o empresário Avelino Vieira, o banco tinha se firmado entre os maiores do país. “Em câmbio, chegou a ser maior que o Banco do Brasil”, orgulhava-se o banqueiro. No entanto, a empresa passava por dificuldades financeiras e, em 1997, o mesmo governo Fernando Henrique que tinha colocado o paranaense no primeiro escalão, determinou sua derrocada.
Traição
A intervenção foi seguida da venda do banco e dos ativos para o britânico HSBC. Vieira nunca perdoou o que considerou uma traição do então presidente. Primeiro, porque ele achava que o banco tinha condições de se recuperar. Segundo, porque, segundo ele, os ativos foram vendidos “a preço de banana”. E terceiro, porque José Eduardo nunca tirou da cabeça que Fernando Henrique tinha lhe tirado o banco porque ele estava ficando forte demais.
“Até para presidente da República eu cheguei a ser cogitado. Por isso que o Fernando Henrique fez a intervenção. Por medo de eu concorrer com ele. Com a intervenção no banco, obviamente afetou minha credibilidade e eu fiquei sem recursos para qualquer coisa”, desabafaria quinze anos mais tarde ao jornal O Estado de S. Paulo.
Grupo Folha
Politicamente, a venda do Bamerindus significou o fim de José Eduardo. Terminado o mandato de senador, ele nunca mais se candidatou a nada. Continuou nos negócios com a Folha de Londrina, do qual passou a ser sócio proprietário em 1992. No entanto, pouco ia à sede do jornal. Preferia dividir seus dias entre Carlópolis, onde morava, e Joaquim Távora, na Fazenda da Capela, onde cuidava do gado.
Há vários anos enfrentava problemas de saúde. Tinha, segundo ele próprio, “um pouco de diabetes”. Em 2011, passou a ter problemas de fala que, segundo seu médico, poderiam ser consequência de um acidente vascular cerebral. “Não senti nada”, disse em entrevista ao jornal Valor Econômico.
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