A contratação de um escritório de advocacia especializado em delações
premiadas pelo deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi interpretada
por investigadores da Operação Lava Jato como um recado ao partido.
Após ser preso, na quarta-feira passada, o ex-presidente da Câmara
incluiu em sua equipe de defensores o advogado Marlus Arns, que já
negociou a colaboração de executivos da construtora Camargo Corrêa.
A possibilidade de um acordo de Cunha com a força-tarefa da Lava
Jato assombra o Planalto e membros do PMDB. O ex-parlamentar atuava nos
bastidores como uma espécie de tesoureiro informal do partido,
intermediando doações eleitorais a aliados.
Citado por delatores como recebedor de propinas relacionadas a contratos da Petrobrás, investigadores ouvidos pelo Estado
afirmam que o papel de Cunha no comando do esquema na estatal é
secundário. Os indícios contra o peemedebista, segundo uma pessoa
envolvida na apuração do caso, até agora apontam muito mais para
tentativas de extorsão do que por sua influência nos negócios da
empresa.
Cunha é acusado na Lava Jato de receber propinas por contrato da
Petrobrás na África e em construção de plataformas, via Diretoria
Internacional da estatal, que faria parte da cota do PMDB no esquema de
ocupação política dos cargos na empresa. Ele responde ainda por lavagem
de dinheiro, ocultação de patrimônio em contas secretas na Suíça e
tentativa de obstrução às investigações.
Na Câmara, parlamentares dizem acreditar que o avanço das
investigações sobre a família de Cunha poderia acelerar uma eventual
negociação por acordo de delação premiada do peemedebista. A mulher,
Cláudia Cruz, e sua filha Danielle são alvo da Lava Jato.
Delação. Responsável pela homologação de mais de 50
acordos de colaboração, o juiz Sérgio Moro defendeu em palestra em
Curitiba, um dia depois de prender Cunha, os acordos de colaboração.
Segundo ele, investigações de crimes de corrupção são complexas e muitas
vezes "não há como prescindir do auxílio" de criminosos.
"Crimes não são cometidos no céu, nem nos conventos, como regra,
então não podemos chamar anjos ou freiras como testemunhas desses casos
criminais envolvendo a administração pública", afirmou o juiz.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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