Um laudo da Polícia Federal (PF) feito de um disco rígido de
Marcelo Odebrecht, anexado a um dos processos em que o
ex-presidente Lula é réu na Operação Lava Jato, mostra uma
troca de e-mails em que o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso (PSDB) pede ajuda ao empresário para candidatos
da Odebrecht por meio da compra de um apartamento vizinho ao
dele e de um terreno que abrigaria a sede do Instituto Lula, o que
ele tem negado. A nova sede não foi construída. A inclusão das
mensagens no processo foi um pedido da defesa do próprio Lula,
que queria ter acesso ao conteúdo. Fernando Henrique Cardoso
não é investigado na Lava Jato. No primeiro e-mail analisado
pela PF, FHC pede ajuda de Odebrecht para Antero Paes de
Barros, do Mato Grosso. "Recordando nossa conversa no jantar
de outro dia, envio-lhe um SOS. O candidato ao senado pelo PSDB,
Antero Paes de Barros, ainda está em segundo lugar, porém a
pressão do governismo, ancorada em muitos recursos, está
fortíssima. Seria possível ajudá-lo? Envio abaixo os dado (sic)
bancários (...)", escreveu FHC. A mensagem foi enviada no dia
13 de setembro de 2010, quando Fernando Henrique já não ocupava
mais cargo público. No final do texto, o ex-presidente informou
dados de uma conta bancária. Odebrecht respondeu cerca de
2 horas depois. "Presidente, estou fora até amanhã, mas até 4ª
dou uma olhada e retorno. Fique tranquilo (no que depender de
nós). Depois aproveito, e lhe dou o feedback dos demais apoios
e reforços que fizemos na linha do que conversamos. Forte
abraço", disse o empresário. No dia seguinte, conforme o laudo,
Marcelo mandou uma mensagem para Fernando Henrique
sinalizando que pedido foi repassado. “Presidente, já solicitei
que fosse feito o apoio ao Antero. Vou pedir para verificarem
sua disponibilidade para lhe apresentar um balanço. Forte abraço",
afirmou. No dia 21 de setembro, Fernando Henrique enviou outro
e-mail pedindo ajuda também para Flexa Ribeiro, do Pará.
"Estimados amigos: desculpem a insistência e nem mesmo sei
se já atenderam o que lhes pedi, mas olhando o quadro geral,
há dois possíveis senadores que precisam atenção: 1. Antero
Paes de Barros, de Mato Grosso 2. Flexa Ribeiro, do Pará.
Ainda há tempo para eles alcançarem, no caso na verdade é
manterem, a posição que os leva ao êxito. Abraços, Fernando
Henrique Cardoso", disse.
"Já contactamos Antero, está fora, mas já sabe que iremos
apoiá-lo. Flexa não sei dizer, mas vou verificar", respondeu
Marcelo.
Nas trocas de mensagens, não há menções a valores de
doações e nem a confirmação de que as doações foram
efetivamente feitas.
No laudo anexado pela PF, também consta uma mensagem
eletrônica de André Amaro, executivo do grupo. O e-mail foi
enviado no dia 18 de dezembro de 2010 para Marcelo Odebrecht
com o título “iFHC”.
"Em alinhamento com EO informei a Daniel que nossa
contribuição será de 1,8 mi em 24 meses, conforme acertado
no último encontro dos empresários no Instituto. Daniel disse
que, talvez, contribua com menos, se posicionando junto a um
grupo de empresas relativamente menores". Em resposta,
Marcelo disse horas depois: "Ele me comentou. Parece que
meu pai puxou para cima. Deixe meu pai avisado", afirmou Amaro
na mensagem.
Antero Paes de Barros perdeu as eleições em 2010; já Flexa
Ribeiro foi eleito. Nas prestações de contas de ambos à Justiça
Eleitoral não constam referências a doações do Grupo Odebrecht.
O que dizem os citados
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que pode
ter feito o pedido para Marcelo Odebrecht, mas reforçou que
eram legais. Fernando Henrique disse ainda que não se recorda
se as doações (aos dois tucanos, de dois estados) foram feitas,
mas que elas não se deram em troca de nenhuma decisão dele,
já que na época não ocupava cargo no governo. O senador Flexa
Ribeiro e Antero Paes de Barros, atualmente sem partido,
disseram que desconhecem a troca de e-mails e que as
campanhas deles em 2010 não receberam qualquer contribuição
da Odebrecht.
A Odebrecht voltou a declarar que está colaborando com a
Justiça no Brasil e nos países em que atua, e implantou um
sistema para prevenir, detectar e punir desvios ou crimes.
Segundo a defesa de Marcelo Odebrecht, os e-mails são
autoexplicativos e se referem a pedidos que sempre foram
normais e comuns por parte de políticos. A direção do PSDB
Nacional diz que desconhece os supostos pedidos e defende
rigor no cumprimento da legislação eleitoral. G1
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