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sexta-feira, 13 de outubro de 2017

CINCO HOMOSSEXUAIS MORRERAM VÍTIMAS DE LATROCÍNIO NOS ÚLTIMOS TRÊS ANOS EM LONDRINA

Cinco homens homossexuais morreram vítimas de latrocínio em Londrina nos últimos 3 anos. Os crimes foram realizados de formas semelhantes. Os cinco homens tiveram encontros amorosos, marcados por meio de aplicativos ou não, que terminaram em roubo e morte.  
O caso mais recente foi registrado em setembro deste ano. O corpo do agente educacional Antônio Maximiano Filho foi encontrado na noite de 21 de setembro em um milharal às margens da rodovia PR-445. A última vez em que foi visto foi em 19 de setembro. A Polícia Civil afirmou na ocasião que um dos envolvidos teria se encontrado com a vítima e os outros dois, teriam receptado o veículo com o corpo dentro, após o encontro. Os suspeitos Maikon Fernando Barreto, Leonardo César de Jesus Gouveia e Leandro Gonçalves foram presos no mesmo dia. 

Em junho deste ano, o corpo do cabeleireiro Sandro Tagliari foi encontrado em uma estrada do distrito da Warta, com marcas de tortura, no dia 27. Sandro foi visto pela última vez no dia 25 à noite.
O veículo Fiat Punto da vítima foi localizado no início de julho em Iporã (região Noroeste do estado). Conforme o delegado-chefe da 10ª Subdivisão Policial de Londrina (10º SDP), Osmir Ferreira Neves Junior, o carro estava abandonado, preparado para ser utilizado para contrabando. Em 11 de julho, um dos suspeitos do crime, Roge de Souza Silva, foi preso. De acordo com as investigações da polícia, Tagliari, Silva e um outro homem se encontraram no centro da cidade, na noite de 25 de junho. O objetivo do cabeleireiro era um programa sexual. Já para a dupla, a intenção era roubar o carro da vítima. O segundo suspeito de envolvimento continua foragido.   Em março deste ano, Gilmar Rolim de Oliveira, 55 anos, foi encontrado morto em um apartamento na região central de Londrina, com os pés e mãos amarrados e sinais de espancamento. O apartamento estava revirado, mas não havia sinais de arrombamento. Horas depois, o veículo Corolla pertencente a Gilmar foi encontrado abandonado na zona norte da cidade. O suspeito, Thiago Henrique, foi preso. Thiago se defendeu dizendo que a vítima queria ter relações com ele e o mesmo recusou. Segundo ele, houve uma discussão e luta corporal entre os dois. 

No início de agosto de 2015, o agente penitenciário Vanderlei Vitti Fernandes, 44 anos, foi encontrado degolado em sua residência, na zona norte de Londrina. Na ocasião, em entrevista ao Portal Bonde em 7 de agosto de 2015, o investigador e superintendente da 10ª SDP de Londrina, Vanderlan Luiz Melo, afirmou que o suspeito teria tido um relacionamento amoroso com a vítima. O suspeito Admilson Teixeira do Amaral, foi preso em 31 de agosto de 2015. Imagens do circuito interno de um posto de gasolina e do condomínio mostram os dois chegando juntos à casa onde Vanderlei foi encontrado morto. O Honda Fit da vítima também foi encontrado abandonado no Conjunto Habitacional Jerônimo Nogueira, sem as duas rodas traseiras. 

Em 26 de agosto de 2014, o professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Sérgio Paulo Adolfo, de 65 anos, foi encontrado morto no interior de um Crossfox, com sinais de estrangulamento. O veículo estava estacionado nas proximidades do Londrina Norte Shopping, no Jardim Pacaembu, zona norte da cidade. 

Imagens do circuito interno do estabelecimento mostram os dois chegando e apenas o outro homem saindo, conduzindo o carro. O celular e a carteira da vítima foram levados. Jurandir Ramos Júnior foi preso no início de setembro do mesmo ano. Ele foi encontrado após a polícia cruzar ligações feitas e recebidas pelo telefone celular da vítima. Júnior confessou o crime e disse que matou a vítima após uma briga dentro de um motel, localizado na zona norte. 

De acordo com o delegado-chefe da 10ª SDP, Osmir Ferreira Neves Junior, "os assaltantes aproveitam as circunstâncias desses homens procurando encontros casuais por causa do anonimato". No entanto, os crimes não estão interligados. São crimes semelhantes em relação às circunstâncias. Ainda segundo Osmir, pode haver outros casos envolvendo vítimas de crimes que iniciaram em encontros, mas as ocorrências são subnotificadas, ou seja, ao registrar boletim de ocorrência, este fato não é citado. 

O delegado deixa claro que a orientação sexual da vítima não tem ligação com os crimes, mas o fato de não conhecerem os parceiros previamente. "Nós só ficamos sabendo que foi assim [crime precedido de encontro] quando ocorre o assassinato, mas todos que se tornam vítimas de criminosos deviam registrar boletim de ocorrência", afirma. 

Todos os casos foram registrados como latrocínio, pois segundo o delegado-chefe, "o crime de ódio não envolve patrimônio. E nesses casos que nós visualizamos em Londrina, que investigamos todos, tinham como finalidade a subtração do patrimônio desses homossexuais". "A questão pontual desses latrocínios e, principalmente, envolvendo homossexuais, é que numa luta corporal, esses homens, por se tratarem de homens, também acabam levando uma certa vantagem. Seria também o caso de mulheres procurarem a prostituição masculina, o que não ocorre, principalmente, usando esses meninos que ficam nas ruas. Por isso, elas não são assaltadas." 

Alerta 

Segundo a psicóloga Lívia Fortes, "os policiais, muitas vezes, registram como latrocínio o assassinato de homossexual quando, na realidade, não é latrocínio, mas sim, assassinato por ódio, mas não somente crime de ódio. Seria crime de ódio e latrocínio". Ela concorda com o delegado que os assaltantes estão aproveitando o uso de aplicativos e outras formas para encontrar desconhecidos anonimamente, sejam homossexuais ou não. Em relação aos aplicativos, a psicóloga afirma que a psicologia está conseguindo mapear o assunto em termos de pesquisa. 

"Hoje em dia, tanto homens, como mulheres, estão mais sujeitas a isso. Pessoas com quadro depressivo leve, melancólico, pessoas introspectivas, quer sejam homossexuais ou não, com dificuldade relacional e interpessoal. As pessoas tem lançado mão dessa estratégia dos aplicativos e marcam esses encontros. E quando marcam esses encontros, às vezes se colocam em risco. E outras pessoas tiram vantagem quanto para sexo fácil, como para roubos e mortes." 

Por isso, Lívia alerta que é importante sempre marcar os encontros em locais públicos. "Quando mais aberto e exposto for o encontro, melhor". Além disso, é essencial tentar encontrar amigos em comum, "para que depois você possa ir estreitando as relações". Investigar a pessoa também é fundamental. "Atualmente, é muito fácil você procurar informações sobre alguém. É possível ver também se a pessoa tem processos no nome dela, entre outras questões." 

Outro ponto muito importante que muitas pessoas se esquecem, é que quando a pessoa vai sair com algum desconhecido, é preciso avisar os amigos. "Porque uma das coisas que acontecem, é que as pessoas vão aos encontros e não avisam ninguém. Muitas pessoas já imaginam que estão fazendo algo errado ou de risco, então simplesmente não avisam ninguém. E aí não tem ninguém durante um espaço de horas muito grande que questione onde esta pessoa possa estar." 

"Hoje em dia, todo cuidado é pouco. Cada vez mais as pessoas estão mais intolerantes com várias questões. As pessoas, hoje em dia, estão mais desconfiadas e com mais medo, no entanto, menos cuidadosas", afirma Lívia.   Fernanda Circhia - Redação Bonde

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