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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

PESQUISA APONTA QUE 65% DOS AGENTES PENITENCIÁRIOS DO PARANÁ ESTÃO DOENTES

Uma pesquisa realizada pelo Sindicato dos Agentes Penitenciários 
do Paraná (Sindarspen) aponta que 65,6% das agentes penitenciárias 
femininas do estado estão doentes.  O levantamento, obtido com 
exclusividade pelo G1, foi feito com base em 122 questionários aplicados 
a agentes do sistema estadual, o que corresponde a 32% do total.  
As enfermidades mais relatadas são ansiedade, depressão, problemas
 emocionais, hipertensão, lesão por esforço repetitivo (LER) e problemas
 na coluna.

Veja os tipos de doenças que as agentes dizem 

enfrentar ou já ter enfrentado:

  • 31% — transtornos mentais e de comportamento
  • 27,5% — doenças no aparelho digestivo
  • 26% — doenças no aparelho respiratório
  • 26% — doenças no sistema nervoso
  • 17,5% — doenças no sistema osteomuscular (ósseo e muscular)
  • 16% — doenças de pele
Segundo as servidoras, a manifestação das doenças tem ligação
 direta com más condições de trabalho (70% dizem estar insatisfeitas
 com o sistema) e com o risco ao qual estão expostas diária e
 imininentemente. Mais da metade já precisou se afastar do trabalho
 por motivo médico.  É o caso de uma agente de 51 anos, diagnosticada
 com síndrome do pânico após ser exposta a situações de extremo
 perigo dentro de uma unidade na Região Metropolitana de Curitiba.
Ela diz ter sido agredida por uma presa, que lhe tomou as chaves das 
celas, no corredor da unidade, e ameaçou uma fuga em massa — o 
que não ocorreu; em outro momento, conta que presenciou companheiras
 de profissão serem ameaçadas e brutalmente torturadas durante uma 
rebelião, no ano passado.   "Depois desses episódios, passei a sentir
 muita falta de ar, aperto no peito. Parecia que eu ia desmaiar. É uma 
sensação permanente de que algo ruim vai acontecer. Dali para frente, 
toda vez que eu entrava na galeria, meu coração acelerava e eu sentia
 um medo terrível, um sensação de prisão. Infelizmente, a gente também
 tá cumprindo a nossa pena lá dentro", lamenta.
A servidora foi afastada das funções depois de passar por perícia 
médica. Ela diz sentir culpa por não poder trabalhar. "Eu me sinto
 culpada. Toda vez que vou à perícia saio chorando. Eu não estou lá 
para fazer corpo mole. Eu gostaria muito de estar forte para poder
 trabalhar".    Ela reclama do descaso do Estado, já que tem que pagar
 por todo o tratamento. "Eu adoeci lá dentro. O Estado me adoeceu 
e não tá cuidando de mim. Não tem preocupação. Simplesmente 
dizem 'vai lá no médico'".    Outra agente, de 36 anos, desenvolveu 
síndrome do túnel do carpo, uma neuropatia causada por lesão por 
esforço repetitivo (LER), causada pelo esforço repetitivo de abrir e 
fechar os pesados portões de ferro da cadeia.    "Sinto muita dor, 
formigamento, amortecimento. Estou perdendo a força e o movimento
 das minhas mãos por causa do meu trabalho", afirma.    Na galeria em
 que ela trabalha, são 58 celas, cujos portões precisam ser mov-
imentados
 ao menos seis vezes por dia, para banho, atividades escolares e 
banho de sol das detentas, por exemplo. O trabalho é dividido em
 apenas três servidoras, diz ela.     A agente afirma que, ao relatar o 
problema, também passou por perícia, mas foi tratada com desprezo.
 Ela foi realocada temporariamente para a portaria, onde, mesmo 
com o problema nas mãos, precisa erguer sacolas de visitas para 
verificar o que entra nas celas.    "Fui na perícia, que simplesmente
 não fez nada. Me trataram como se não fosse algo grave e como 
se não fosse uma doença causada pelo meu trabalho. É tão fácil pro
 estado fingir que nada está acontecendo, não é mesmo? Me sinto 
completamente abandonada". 

Contexto do estado

O Paraná abriga três unidades destinadas para mulheres conde-
nadas: a Penitenciária Feminina de Piraquara (PFP), o Centro de
 Reintegração Social Feminino (CRESF), em Foz do Iguaçu, e o
 Complexo Médico Penal (CMP), em Pinhais, onde ficam as 
parturientes e presas em medida de segurança.    Além disso,
 existem agentes femininas nas outras 29 unidades penais masculinas
 do estado.     Mais da metade das servidoras tem entre 31 e 40
 anos, 68% são mães, 80% têm curso superior completo e mais 
de 90% trabalha exclusivamente no sistema penitenciário.      
A pesquisa completa será apresentada pelo Sindasrpen na quinta-
feira (23), no 1° Encontro Estadual das Agentes Penitenciárias do 
Paraná, que será realizado no Anfi 100 da Universidade Federal 
do Paraná (UFPR), em Curitiba. G1

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