Uma pesquisa realizada pelo Sindicato dos Agentes Penitenciários
do Paraná (Sindarspen) aponta que 65,6% das agentes penitenciárias
femininas do estado estão doentes. O levantamento, obtido com
exclusividade pelo G1, foi feito com base em 122 questionários aplicados
a agentes do sistema estadual, o que corresponde a 32% do total.
As enfermidades mais relatadas são ansiedade, depressão, problemas
emocionais, hipertensão, lesão por esforço repetitivo (LER) e problemas
na coluna.
Veja os tipos de doenças que as agentes dizem
enfrentar ou já ter enfrentado:
- 31% — transtornos mentais e de comportamento
- 27,5% — doenças no aparelho digestivo
- 26% — doenças no aparelho respiratório
- 26% — doenças no sistema nervoso
- 17,5% — doenças no sistema osteomuscular (ósseo e muscular)
- 16% — doenças de pele
Segundo as servidoras, a manifestação das doenças tem ligação
direta com más condições de trabalho (70% dizem estar insatisfeitas
com o sistema) e com o risco ao qual estão expostas diária e
imininentemente. Mais da metade já precisou se afastar do trabalho
por motivo médico. É o caso de uma agente de 51 anos, diagnosticada
com síndrome do pânico após ser exposta a situações de extremo
perigo dentro de uma unidade na Região Metropolitana de Curitiba.
Ela diz ter sido agredida por uma presa, que lhe tomou as chaves das
celas, no corredor da unidade, e ameaçou uma fuga em massa — o
que não ocorreu; em outro momento, conta que presenciou companheiras
de profissão serem ameaçadas e brutalmente torturadas durante uma
rebelião, no ano passado. "Depois desses episódios, passei a sentir
muita falta de ar, aperto no peito. Parecia que eu ia desmaiar. É uma
sensação permanente de que algo ruim vai acontecer. Dali para frente,
toda vez que eu entrava na galeria, meu coração acelerava e eu sentia
um medo terrível, um sensação de prisão. Infelizmente, a gente também
tá cumprindo a nossa pena lá dentro", lamenta.
A servidora foi afastada das funções depois de passar por perícia
médica. Ela diz sentir culpa por não poder trabalhar. "Eu me sinto
culpada. Toda vez que vou à perícia saio chorando. Eu não estou lá
para fazer corpo mole. Eu gostaria muito de estar forte para poder
trabalhar". Ela reclama do descaso do Estado, já que tem que pagar
por todo o tratamento. "Eu adoeci lá dentro. O Estado me adoeceu
e não tá cuidando de mim. Não tem preocupação. Simplesmente
dizem 'vai lá no médico'". Outra agente, de 36 anos, desenvolveu
síndrome do túnel do carpo, uma neuropatia causada por lesão por
esforço repetitivo (LER), causada pelo esforço repetitivo de abrir e
fechar os pesados portões de ferro da cadeia. "Sinto muita dor,
formigamento, amortecimento. Estou perdendo a força e o movimento
das minhas mãos por causa do meu trabalho", afirma. Na galeria em
que ela trabalha, são 58 celas, cujos portões precisam ser mov-
imentados
ao menos seis vezes por dia, para banho, atividades escolares e
banho de sol das detentas, por exemplo. O trabalho é dividido em
apenas três servidoras, diz ela. A agente afirma que, ao relatar o
problema, também passou por perícia, mas foi tratada com desprezo.
Ela foi realocada temporariamente para a portaria, onde, mesmo
com o problema nas mãos, precisa erguer sacolas de visitas para
verificar o que entra nas celas. "Fui na perícia, que simplesmente
não fez nada. Me trataram como se não fosse algo grave e como
se não fosse uma doença causada pelo meu trabalho. É tão fácil pro
estado fingir que nada está acontecendo, não é mesmo? Me sinto
completamente abandonada".
Contexto do estado
O Paraná abriga três unidades destinadas para mulheres conde-
nadas: a Penitenciária Feminina de Piraquara (PFP), o Centro de
Reintegração Social Feminino (CRESF), em Foz do Iguaçu, e o
Complexo Médico Penal (CMP), em Pinhais, onde ficam as
parturientes e presas em medida de segurança. Além disso,
existem agentes femininas nas outras 29 unidades penais masculinas
do estado. Mais da metade das servidoras tem entre 31 e 40
anos, 68% são mães, 80% têm curso superior completo e mais
de 90% trabalha exclusivamente no sistema penitenciário.
A pesquisa completa será apresentada pelo Sindasrpen na quinta-
feira (23), no 1° Encontro Estadual das Agentes Penitenciárias do
Paraná, que será realizado no Anfi 100 da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), em Curitiba. G1
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