Hoje, aos 31 anos, o sonho se concretizou. Virlei é o primeiro médico indígena a se graduar pela Universidade Estadual de Maringá e, nesta quinta-feira (26) será um dos formandos na solenidade de antecipação de colação de grau para o curso de Medicina. A cerimônia terá a presença de Mário Raulino Sampaio, liderança indígena na Terra Yvy Porá, entre os municípios paranaenses de Santa Amélia e Abatiá.
Possivelmente, essa história não teria os mesmos ingredientes sem uma lei estadual de 2001 que possibilitou o acesso de estudantes indígenas ao ensino superior. A Lei determina a reserva de vagas nas universidades estaduais paranaenses para serem disputadas entre os integrantes das sociedades indígenas do Estado.
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Atualmente, cada universidade estadual oferece seis vagas, todas sobressalentes, ou seja, não são retiradas daquelas regulares oferecidas nos cursos. Os candidatos passam por um vestibular específico para ingresso na instituição escolhida. O primeiro vestibular foi realizado em 2002.
De lá pra cá, a UEM já formou doze alunos indígenas e outros 27 estão matriculados em diferentes cursos que a Universidade oferece. Os acadêmicos contam com o apoio da Comissão Universidade dos Índios (Cuia), órgão criado em 2005, que tem como função desenvolver as ações de seleção e acompanhamento dos estudantes.
Desafios a serem vencidos - Virlei relembra, com uma pitada de humor, quando o professor lhe perguntou, em um dos primeiros dias de aula, o que era DNA. Na ocasião, para ele DNA estava relacionado com teste de paternidade. Nada além. Quando o professor começou a falar, um novo mundo se abriu e uma pontinha de dúvida nasceu. "Percebi que tinha deficiências de aprendizagem trazidas do ensino médio e me questionei se daria conta da empreitada que teria pela frente". Outros tantos desafios tiveram que ser vencidos. Inclusive o do preconceito, que por vezes era velado, outras declarado. "Meu objetivo foi mais forte do que tudo isso", responde imediatamente quando lhe é perguntado sobre o que o motivou a continuar no curso.
O coordenador do curso de Medicina da UEM, professor Carlos Edmundo Fontes, destaca o esforço de Virlei, que apesar de todos os obstáculos, conquistou seu objetivo. "Ele não teve facilidades e precisou comprovar as mesmas competências que seus colegas de turma para ser aprovado", diz. Para Carlos Edmundo, Virlei está saindo do curso bem diferente de quando entrou. "Hoje ele é uma pessoa bem mais segura e madura", opina.
Virlei faz planos para o futuro. Quer fazer residência na área da Saúde da Família e então trabalhar com o cuidado à saúde de populações indígenas. Será o caminho de volta daquele menino que, aos 11 anos sonhava em ser médico. E sua trajetória acabou servindo de exemplo na própria família. O irmão, Marcos Aguiar Primo, também ingressou na UEM está prestes a se formar em Educação Física. Além disso, o pai, Virlei Primo, é acadêmico no segundo ano de História. bonde.com
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