O Palácio do Planalto avalia que a prisão do pecuarista José Carlos Bumlai ontem abre uma nova vertente de investigação na Operação Lava Jato, com foco no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e desdobramentos políticos sensíveis para o governo Dilma Rousseff. Bumlai é amigo de Lula e tornou-se alvo da Lava Jato depois que dois delatores relataram que ele teria repassado recursos para uma nora do ex-presidente e ajudado a quitar dívidas do PT, o que o pecuarista nega ter feito. Além disso, Bumlai é descrito pelo delator Fernando Soares, o Baiano, como uma espécie de lobista na Sete Brasil, empresa que administra o aluguel de sondas para a Petrobras no pré-sal. Segundo a reportagem apurou, o núcleo mais próximo a Dilma avalia que o fechamento do cerco a Lula na Lava Jato tem o objetivo de desmoralizá-lo e enfraquecer sua capacidade de mobilização social.
Os auxiliares da presidente reconhecem que, num eventual cenário de abertura de processo de impeachment contra Dilma, o ex-presidente "é o único" capaz de mobilizar a militância petista e os movimentos sociais para defender o mandato da sucessora.
Caso Lula esteja enfraquecido e desgastado pelas suspeitas de corrupção, por exemplo, o governo Dilma poderia ficar inviabilizado. Lula nega que tenha atuado como intermediário de empresas ou autorizado lobby em seu nome. Pouco depois da prisão de Bumlai, ministros petistas já discutiam que, se a investigação chegar de vez ao ex-presidente, o resultado prático não será apenas prejuízos ao governo Dilma, mas também significará a derrocada do PT e do projeto político do partido.
Da última vez que se encontraram pessoalmente, há quase vinte dias no Palácio da Alvorada, o ex-presidente e Dilma conversaram sobre os desdobramentos da Lava Jato. Lula tentou não demonstrar preocupação e disse que os problemas do governo da sucessora têm origem na crise econômica e no que ele avalia ser a má condução da política pela equipe comandada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Dilma, porém, insistiu que o grande celeuma de sua administração é a Lava Jato, que desgastou a imagem do PT e, consequentemente a sua e de seu governo, além de ter prejudicado a Petrobras, a principal empresa pública, considerada a menina dos olhos da presidente. Lula saiu do encontro bastante irritado com o que chamou de "teimosia" da presidente. (Marina Dias/Folhapress)
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