Apesar da forte geada que atingiu o Paraná no final de julho, o preço do café no mercado agrícola estadual e para o consumidor final não deve mudar até o final do ano, segundo estimativa do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab). A perda paranaense – que é estimada em um milhão de sacas na safra 2014, o equivalente a 60% da produção estadual - não tem expressão no cenário nacional. No próximo ano, a expectativa é de colher 50 milhões de sacas do grão no Brasil, segundo o técnico responsável pela área de café do Deral, Paulo Franzini.
O Paraná - que já foi o maior produtor mundial de café na década de 1960 - é agora apenas o quinto maior produtor brasileiro. Por isso, o gerente comercial de varejo da Cooperativa Agroindustrial de Maringá (Cocamar), Marco Alarcon, afirma que a geada só prejudicou o cafeicultor paranaense que mantém a atividade, na maioria das vezes, em pequenas propriedades rurais.
Segundo Alarcon, outros problemas climáticos, como as intensas chuvas de junho e o baixo preço dos grãos, têm preocupado o cenário cafeeiro. “A grande oferta de grãos brasileiros, vietnamitas e colombianos tem mantido o preço da saca muito baixo há um ano”, conta o gerente da Cocamar. De acordo com o Deral, o atual preço médio da venda da saca no estado é de R$ 264, enquanto o custo de produção é de R$ 340. “Então, o que a gente vê é um produtor bem desanimado, com vontade de desistir do setor”, conta o gerente da Cocamar.
Geada comprometeu 85% das lavouras do Norte e Noroeste
A geada de julho comprometeu 85% das lavouras de café do Norte e Noroeste do estado, responsáveis por cerca de 80% da produção cafeeira do estado. Em alguns municípios, como Mandaguari e Maringá, no Noroeste, Apucarana, São Jerônimo da Serra, Jesuítas e Congoinhas, no Norte, a perda nas lavouras chegaram a quase 90%.
“A geada pegou as plantas com tecido novo. Por isso, será necessária a poda ou erradicação dos pés”, explica Luiz Roberto Saldanha Rodrigues, presidente da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp). Rodrigues prevê que, assim, a renda do produtor está comprometida por até três anos. O produtor Ronaldo Rosseto, de Mandaguari, por exemplo, terá que derrubar 50 mil de um total de 350 mil pés para replantio por conta da geada.
Além disso, Paulo Franzini, técnico responsável pela área de café do Deral afirma que por conta da última geada, as aéreas cafeeiras da região devem diminuir em, pelo menos, 20% na próxima safra. “Essa é uma estimativa inicial. Só vamos ter certeza dessa diminuição com o final da colheita, em setembro. Mas acreditamos que a perda da aérea de plantio possa ser ainda maior.” Somente na região Noroeste, dos 2,7 mil hectares, ao menos 300 hectares devem desaparecer até o próximo ano.
Mecanização pode ser oportunidade no setor
O responsável técnico pela aérea de café do Deral, Paulo Franzini, defende que, para que o produtor permaneça no setor cafeeiro e conquiste uma margem de lucro, é imprescindível que haja a mecanização da produção. “Fazemos estudos há mais de cinco anos em parceria com o Iapar [Instituto Agronômico do Paraná] e Câmara Estadual de Comércio e não tem jeito: ou entra máquina ou o negócio se torna insustentável.”
Franzini explica que isso ocorre por conta do alto custo e falta de mão de obra. “Hoje 60% do valor da saca de café é destinado, exclusivamente, para o pagamento da mão de obra. Isso torna a atividade inviável para o produtor.”
Mesmo com o futuro desalentador, o presidente da comissão técnica de cafeicultura da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Walter Ferreira Lima, diz acreditar que o momento pode ser utilizado para uma virada da cultura no estado. “É hora de fazer a renovação da cultura e entrar na mecanização. Mas para isso é preciso recursos disponíveis”, destaca.
O setor aguarda o anúncio de novas medidas de apoio por parte dos governos estadual e federal aos cafeicultores que continuarem na atividade. O governo federal anunciou, no início de agosto, que os produtores poderão vender 3 milhões de saca à Companhia Nacional de Abastecimento por R$ 346 cada. A medida seria uma resposta ao momento de preços baixos.
"O problema é que eles anunciaram que vão fazer, mas não disseram como. Não anunciaram as regras", critica o gerente comercial de varejo da Cocamar, Marco Alarcon.
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