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sexta-feira, 10 de setembro de 2021

PAPA FRANCISCO VIAJA ATÉ QUARTA FEIRA 15 PARA DOIS PAÍSES

Um papa não viaja à toa. E Francisco parece empenhado em voltar a mexer peças, espalhando suas mensagens, no xadrez da geopolítica. No domingo (12) ele inicia uma viagem, que deve durar até a quarta-feira (15), a dois países da antiga Cortina de Ferro: Hungria e Eslováquia. Será o segundo tour papal em meio à pandemia, depois de uma visita ao Iraque no primeiro semestre -2020, por causa do coronavírus, foi o primeiro ano sem nenhuma viagem internacional de um pontífice desde 1978. Se já há um peso importante na retomada dos deslocamentos do líder da Igreja Católica, mesmo que a Covid-19 ainda não tenha sido vencida, os destinos da vez amplificam os significados. Historicamente, tanto Hungria quanto Eslováquia conservam maioria católica na população (dados da Santa Sé indicam, respectivamente, 61% e 74% de adeptos nesses países), mesmo que a religião tenha sido perseguida durante o período de domínio socialista. O primeiro ainda vive um momento particular, sob o contexto da ascensão global da extrema direita, movimento do qual o primeiro-ministro Viktor Orbán é um dos principais expoentes -num governo que exacerba nacionalismo dizendo defender, entre outros, os valores cristãos. "Qualquer viagem do papa é sempre religiosa e política. Ele não viaja só com fins religiosos, mas também como chefe de Estado", diz o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo. "Francisco é um homem de certa idade [completa 85 anos em dezembro], enfrenta problemas de saúde [passou por uma cirurgia no intestino em julho], tem enfrentado grupos da Igreja extremamente conservadores e faz um papado progressista, tentando colocar, ao seu jeitão, o dedo na ferida. Ele parece saber que não tem muito tempo e usa esse senso de urgência para escolher, com visão estratégica, as regiões para suas visitas apostólicas." Doutor pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, o vaticanista Filipe Domingues avalia que "falar de Deus nessa parte do mundo tem um peso especial", dados o passado de repressão e perseguições e o contexto do domínio socialista. "Quando Francisco fala de religião, de fé, também está falando de política. Fé e política, nessa região, onde houve falta de liberdade religiosa, sempre vão estar juntas, e é inevitável levar em conta o contexto atual." Um contexto em que o cerco a liberdades civis e instituições não vem mais da esquerda socialista, como no século 20, mas do extremismo de direita protagonizado por Orbán.

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