Paraná colheu safra recorde de soja este ano, mas o superabastecimento
dos celeiros nacionais e internacionais gerou queda na demanda e, por
consequência, travou as vendas do estado.
Segundo o governo estadual, foram colhidas 19,5 milhões de toneladas,
frente a 16,5 milhões de toneladas em 2016. A produtividade das lavouras,
também recordista, foi de 3.720 quilos por hectare -- 19% maior do que
no ano anterior. Até o momento, no entanto, apenas 44% da produção
foi comercializada, de acordo com o Departamento de Economia Rural
do Paraná (Deral). No ano passado, o percentual já era de 70%, na
mesma época.
Nos três primeiros meses de 2017, a safra recorde de grãos cumpriu
seguidos de queda, enquanto a indústria e serviços não deram
sinais claros de reação. O PIB da agropecuária cresceu 13,4% no
primeiro trimestre, puxando um crescimento de 1% no PIB do primeiro
Com muita oferta e nem tanta demanda, a estimativa do Deral é de
que ainda haja cerca de 11 milhões de toneladas de soja paradas
nos armazéns paranaenses.
O preço já chegou a R$ 83 por saca com 60 quilos, no começo da
safra, mas, atualmente, oscila entre R$ 57 e R$ 58 por saca -- 21%
a menos em relação ao mesmo período de 2016.
O agricultor Gerson Magnoni Bórtoli, de Umuarama, no noroeste para-
naense, afirma que teve a melhor colheita de sua história. Porém, reforça
que, em razão da baixa procura pelo grão, não conseguiu reverter a boa
produtividade em dinheiro.
"Foi a melhor safra que eu tive na minha vida. Este ano foi o conjunto
de tudo: clima favorável, bom preparo da terra, insumos com bom preço.
Fizemos o dever de casa e São Pedro nos ajudou. O problema é que
o preço caiu muito. Acabei colhendo 25% a mais do que o ano passado,
mas a receita foi a mesma", comenta o produtor. Bórtoli diz que,
mesmo sem lucro acima do esperado, vai investir em melhor preparo
do solo para manter o boa produção na próxima safra. "Estou investindo
na preparação do solo, com mais tecnologia e um adubo um pouco
diferenciado. Vamos fazer uma adubação boa, que é o essencial.
Depois, só Deus sabe o que vai vir. Tudo, agora, é especulação",
explica.
Alertado sobre a supersafra antes do plantio, o produtor Ângelo
Celestino, de Ivailândia, no norte do estado, foi cauteloso: preferiu
manter o tamanho da produção, em vez de investir em maior
produtividade, para não deixar soja parada.
"Eu trabalho um pouco diferente do pessoal. Tenho produzido
pela qualidade, me mantendo pequeno, sem pensar no preço.
A produção está alta, não tem muita procura. Então, não adianta
dar o passo maior do que a gente pode. Por enquanto, minha ideia
tem dado certo", comemora.
Celestino também tem apostado na rotação de culturas. Com o fim
da colheita de soja, ele já tem trabalhado com milho, trigo e aveia
para o inverno. A expectativa, para esses grãos, também é de
supersafra. "Tomara, mesmo, que a produção seja boa. Mas não
vou mudar o que tenho feito. Pagando minhas contas, já tá ótimo",
descontrai o agricultor.
Compras cautelosas
Os produtores têm mantido cautela para compras em razão da
incerteza nas vendas da soja, segundo Felipe Camargo, coordenador
da Cocamar Máquinas, concessionária da empresa americana
John Deere em Maringá. Ele diz que, apesar de aumento de 50%
no semestre, os negócios desaceleraram nos últimos meses.
"As vendas de maquinário, neste primeiro semestre, estão boas, mas
temos notado que os produtores estão bastante cautelosos. O preço
está lá embaixo e isso atrapalha as negociações. Temos feito ações
e preços melhores para compensar isso e atrair os clientes", conta. G1.
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