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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

POLÍCIA FECHA BANCO DE OSSOS EM ÁREA NOBRE DE LONDRINA

Dois irmãos foram presos por tráfico e comércio de órgãos, ontem, em Londrina. As prisões foram resultado de uma investigação, até então sigilosa, do Núcleo de Repressão aos Crimes contra a Saúde (Nucrisa), de Curitiba. A operação culminou com a descoberta de um banco clandestino de ossos em uma casa no Jardim Cláudia, zona sul.
Segundo a Polícia Civil, a dupla abastecia, via Correio, “mercados” de dentistas em várias partes do país. Monitoradas, as correspondências com os materiais tinham como destino os estados de Minas Gerais (Belo Horizonte), Pará (Belém), Chapecó (SC), Goiás e Mato Grosso. Pequenos frascos com ossos eram vendidos por valores de R$ 180 a R$ 250. A suspeita é de que o comércio clandestino operava desde 2004.“Vendiam direto para dentistas e para um intermediário”, detalhou a delegada, do Nucrisa, Sâmia Coser, por meio da assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança.
Consultor de banco de ossos alerta sobre riscos
“Quem compra é tão criminoso quanto quem vende”, afirmou o consultor do Banco de Ossos da Universidade Federal do Paraná, cirurgião-dentista Wilson Trevisan. Segundo ele, a demanda é muito grande e a oferta é pequena. O material é usado para enxertos em implantes, mas também para outros procedimentos, como fraturas de mandíbulas. No Paraná, apenas a Universidade Federal possui banco legalizado. No Brasil, são seis.
A utilização de ossos é um procedimento extremamente rigoroso em razão dos riscos que oferece, tanto de contaminação quanto de rejeição. “É um risco muito sério para a saúde. Pode até matar. A pessoa pode ser contaminada por qualquer tipo de doença, como hepatite, HIV”, alertou Trevisan. Para eliminar o risco de contaminação, vários cuidados são tomados. A começar pela retirada dos ossos que deve ser feita por uma equipe diferente da que faz a restituição do corpo doador. “Depois de retirado, o material é tratado, radiografado, identificado e fica seis meses em observação para ver se não há proliferação de microorganismos”, afirmou Trevisan. “Se tiver, o lote todo é descartado.”
Outro procedimento essencial é a desnaturação de proteínas, de acordo com o dentista, para evitar a rejeição. Todos esses procedimentos, além de profissionais treinados, equipamentos para armazenamento, entre outros, conferem um alto custo ao banco de ossos. “Esses materiais são adquiridos de doadores, que são poucos. Por isso devem ser usados com parcimônia, apenas por pessoal treinado”, disse Trevisan.
Divulgação / Polícia Civil do Paraná
Divulgação / Polícia Civil do Paraná / Também foram apreendidos 89 frascos com pedaços de ossos e 46 frascos com ossos moídos em um liquidificador, imersos em uma solução de soro fisiológicoAmpliar imagem
Também foram apreendidos 89 frascos com pedaços de ossos e 46 frascos com ossos moídos em um liquidificador, imersos em uma solução de soro fisiológico
Clandestinidade
Um deles foi preso em casa, em um apartamento na Gleba Palhano, onde foram apreendidas quatro cabeças de fêmur sem origem comprovada. Na residência do Jardim Cláudia e no apartamento foram apreendidos 16 cabeças de fêmur, 89 frascos com pedaços de ossos e 46 frascos com ossos moídos em um liquidificador, imersos em uma solução de soro fisiológico. Havia, ainda, sete embalagens com partículas de ossos e uma embalagem com fragmentos de ossos do quadril. “A quantidade de vítimas é incalculável”, declarou a delegada do Nucrisa. Hoje, às 10h, novas informações devem ser reveladas em entrevista coletiva na sede da 10ª Subdivisão Policial.
Uma fonte do JL revelou que uma década atrás, a família, integrada também por um ortopedista do interior de São Paulo, planejava abrir um banco de ossos em Londrina, mas sem sucesso.

A delegada explicou desconhecer como os ossos foram extraídos dos doadores, bem como era feito o transporte e acondicionamento dos materiais.
“Na casa de um dos irmãos, por exemplo, encontramos cabeças de fêmur armazenadas no freezer na cozinha dele”, descreveu a delegada Sâmia. A armazenagem correta dos materiais deve ser feita em pelo menos dois equipamentos de resfriamento, com temperaturas que cheguem a até – 80º C. O Nucrisa teve suporte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e das vigilâncias sanitárias do Estado e da Prefeitura de Londrina.
Procedência
“De uma forma grosseira, nunca tinha me deparado, em Londrina, com um comércio de órgãos e pedaços de corpo humano dessa maneira”, reagiu Rogério Lampe, gerente da Vigilância Sanitária Estadual, integrante da investigação. Segundo o gerente, a existência do banco de ossos clandestino configura crime contra a saúde pública, porque a procedência “duvidosa” dos materiais pode colocar em risco pacientes que recebam enxertos a partir dessas matrizes apreendidas.
No começo da noite de ontem, Lampe ainda checava dezenas de notas fiscais, recibos e ordens de pagamento para tentar encontrar novos dados sobre o “caminho” do mercado de ossos. “Vamos analisar o material biológico e ver se encontramos mais informações para achar a origem dos ossos.” jornaldelondrina.

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